14 de julho!

Feriado nacional, festa mais importante aqui da França, pra celebrar a queda da Bastilha, marco da Revolução Francesa de 1789. O nascimento da Republica Francesa da Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Dia de cantar a Marselhesa, ou assobiar, pra quem não conhece a letra. Deixo aqui a letra em francês, a tradução (tiradas daqui) e um link com um trecho do filme Piaf.

La Marseillaise

1
Allons enfants de la Patrie
Le jour de gloire est arrivé
Contre nous de la tyrannie
L’étendard sanglant est levé (bis)
Entendez vous dans les campagnes mugir ces féroces soldats
Ils viennent jusque dans vos bras, égorger vos fils, vos compagnes
Aux armes citoyens! Formez vos bataillons!
Marchons, marchons, qu’un sang impur abreuve nos sillons.

2
Que veut cette horde d’esclaves
De traîtres, de Rois conjurés?
Pour qui ces ignobles entraves,
Ces fers dès longtemps préparés? (bis)
Français! Pour nous, ah! Quel outrage!
Quels transports il doit exciter!
C’est nous qu’on ose méditer
De rendre à I ‘antique esclavage!

3
Quoi! des cohortes étrangères
Feraient la loi dans nos foyers!
Quoi! ces phalanges mercenaires
Terrasseraient nos fiers guerriers (bis)
Grand Dieu! Par des mains enchaînées
Nos fronts sous le joug se ploieraient I
De viIs despotes deviendraient
Les maîtres de nos destinées!

4
Tremblez, tyrans! Et vous, perfides,
L’opprobe de tous les partis,
Tremblez! Vos projets parricides
Vont enfin recevoir leur prix (bis).
Tout est soldat pour vous combattre,
S’ils tombent, nos jeunes héros,
La terre en produit de nouveaux
Contre vous tout prêts à se battre

5
Français! En guerriers magnanimes
Portez ou retenez vos coups.
Epargnez ces tristes victimes
A regret s’armant contre nous (bis).
Mais le despote sanguinaire,
Mais les complices de Bouillé,
Tous ces tigres qui sans pitié
Déchirent le sein de leur mère

6
Nous entrerons dans la carrière,
Quand nos aînés n’y seront plus
Nous y trouverons leur poussière
Et les traces de leurs vertus. (bis)
Bien moins jaloux de leur survivre
Que de partager leur cercueil,
Nous aurons le sublime orgueil
De les venger ou de les suivre.

7
Amour sacré de la Patrie
Conduis, soutiens nos bras vengeurs!
Liberté, Liberté chérie!
Combats avec tes défenseurs (bis).
Sous nos drapeaux, que la victoire
Accoure à tes mâles accents,
Que tes ennemis expirant
Voient ton triomphe et notre gloire!

A Marselhesa

1
Avante, filhos da Pátria,
O dia da Glória chegou.
O estandarte ensangüentado da tirania
Contra nós se levanta.
Ouvis nos campos rugirem
Esses ferozes soldados?
Vêm eles até nós
Degolar nossos filhos, nossas mulheres.
Às armas cidadãos!
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Nossa terra do sangue impuro se saciará!

2
O que deseja essa horda de escravos
de traidores, de reis conjurados?
Para quem (são) esses ignóbeis entraves
Esses grilhões há muito tempo preparados? (bis)
Franceses! Para vocês, ah! Que ultraje!
Que élan deve ele suscitar!
Somos nós que se ousa criticar
Sobre voltar à antiga escravidão!

3
Que! Essas multidões estrangeiras
Fariam a lei em nossos lares!
Que! As falanges mercenárias
Arrasariam nossos fiéis guerreiros (bis)
Grande Deus! Por mãos acorrentadas
Nossas frontes sob o jugo se curvariam
E déspotas vis tornar-se-iam
Mestres de nossos destinos!

4
Estremeçam, tiranos! E vocês pérfidos,
Injúria de todos os partidos,
Tremei! Seus projetos parricidas
Vão enfim receber seu preço! (bis)
Somos todos soldados para combatê-los,
Se nossos jovens heróis caem,
A França outros produz
Contra vocês, totalmente prontos para combatê-los!

5
Franceses, em guerreiros magnânimos,
Levem/ carreguem ou suspendam seus tiros!
Poupem essas tristes vítimas,
que contra vocês se armam a contragosto. (bis)
Mas esses déspotas sanguinários
Mas esses cúmplices de Bouillé,
Todos esses tigres que, sem piedade,
Rasgam o seio de suas mães!…

6
Entraremos na batalha
Quando nossos antecessores não mais lá estarão.
Lá encontraremos suas marcas
E o traço de suas virtudes. (bis)
Bem menos ciumentos de suas sepulturas
Teremos o sublime orgulho
De vingá-los ou de segui-los.

7
Amor Sagrado pela Pátria
Conduza, sustente nossos braços vingativos.
Liberdade, querida liberdade
Combata com teus defensores!
Sob nossas bandeiras, que a vitória
Chegue logo às tuas vozes viris!
Que teus inimigos agonizantes
Vejam teu triunfo e nossa glória.

10 Comentários

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10 Respostas para “14 de julho!

  1. Ana Mesquita

    E os carros queimados nas periferias? E os jovens filhos de imigrantes de paises ocupados por essa grande nação, indignados com a violência policial?
    Você já deu um rolezinho pela perifa de Paris? Conhece algum argelino?
    Aí essa consciencia social que me mata!
    bjs linda

    • Sim, Ana, eu ja fui à periferia. Fui a Saint-Denis, uma cidade na Grande Paris conhecida como a mais perigosa daqui. Eh impressionante o contraste, la não parece que estamos na França, lembra um pouco um bairro popular do Brasil, misturado com a Africa e um pouco dos paises arabes. Pegamos um trem local e ouvimos um monte de gente falando arabe. Deu vontade de tirar foto, mas não tirei porque não era conveniente, as pessoas podiam achar ruim e não é bom mostrar que vc é turista num lugar desses, acredite. Um dia faço um post sobre o problema das periferias, dos carros queimados. Pelo que sei até agora, existe sim uma separação, uma formação de gueto, e as oportunidades claramente não são iguais, mas eu não culpo somente o governo francês. Tem um problema muito grande de adaptação das pessoas que vem das ex-colonias, muitas delas incentivam a formação dos guetos, se recusam a se inserir na sociedade (por mais estranho que isso possa parecer). Existe um choque de valores imenso, principalmente por causa da religião. E o preconceito racial que no começo tinha um lado so (os franceses brancos contra os outros), hoje vem dos dois lados, o que gera uma tensão enorme. A relação que esses manifestantes tem com a França é complexa, não é so de odio, eles acabam sim adquirindo alguns valores nacionais, apesar de tudo. Por isso, pode ter certeza que muitos desses jovens pegaram o trem e foram para perto da Torre Eiffel ver os fogos de artificio na comemoração do 14 de julho.
      Bjs

  2. Guilherme

    Musica bonita, linda. A letra é a pior que pode existir para uma nação em pleno século XXI. Militarista, belicosa e ufanista como manda a boa regra dos hinos europeus pós-século XVI. “Bem menos ciumentos de suas sepulturas, Teremos o sublime orgulho De vingá-los ou de segui-los”. Nações que sentam juntas num Parlamento único não deveriam manter esse tipo de indumentária de guerra. Tudo muda através dos tempos, tudo deve mudar, os tempos exigem transformações constantes de valores e simbolos. Utopia a minha, eu sei, mas desabafei pelo menos. Obrigado a vocês pela chance de reler Marseillaise e me entristecer com a letra. Sorry, pelo mau humor.
    Abç.

    • A letra é sangrenta, não tenho duvidas. E esse debate sobre a mudança do hino existe ha bastante tempo. Napoleão aboliu o hino por causa do seu potencial revolucionario, mas essa foi uma ação de censura de quem se preocupa em manter o poder. Ja mudaram um pouquinho a letra: em vez do “allons enfants de la patrie”, hoje cantam “allez enfants de la patrie”. Se cantamos allons (vamos), estamos convocando os cidadãos da nação pra lutar contra os soldados contra-revolucionarios, mas na verdade vc pode interpretar esses “soldados” como quiser e sair por ai atacando os soldados do poder constituido e fazendo a revolução. Allez, a gente canta para os outros (para os revolucionarios do passado) e estabece uma separação. Tem muita gente que defende a mudança do hino, mas so um pouquinho. Porque, você vê, essa não é uma discussão tão simples. Eh verdade que o hino não combina com o século XXI, mas se abolimos a letra a gente perde um pouco da historia, porque o hino é uma maneira de manter a historia viva na memoria do francês. O dia mais importante da nação é o 14 de julho, queda da Bastilha. Ou seja, os franceses têm orgulho da revolução, mesmo sabendo (e isso é preciso lembrar, não podemos apagar a historia) que ela foi sangrenta e até mesmo injusta. Não no plano geral, mas nos seus detalhes, injusta no Terror e nos julgamentos sumarios. Agora, se uma nação escolhe o 14 de julho como data nacional, porque não usar o hino dos revolucionarios? Pensando sobre o assunto, sobre os pros e contras, eu tb acho que é preciso mudar, mas muito pouco, o minimo possivel.
      Bjs

  3. Guilherme

    Sua resposta é impecável. Parabéns!
    Bj.

  4. Renata

    Taís,

    Esse negócio dos hinos é complicado. Se formos pensar, a grande maioria teria que ser trocada, porque tem mais de cem anos e as letras retratam uma situação que não existe – e esperamos que continue a não existir – mais. Só que, ao mesmo tempo, é a história daquela nação, tudo o que ela “passou” para ser o que é hoje, para o bem ou para o mal. Modificar um hino agora, de repente não abriria um precedente para que qualquer evento provocasse novas modificações, tornando-se algo sem fim? Sei lá, hino sempre foi associado a guerras. Tanto é que as Forças Armadas têm hinos, inclusive as do Brasil.

    Tais, sempre leio vc, mas não escrevo. Admiro sua força, sua inteligência e otimismo, principalmente nos momentos difíceis. Não escrevi em abril porque nunca sei o que dizer nessas horas, mesmo que eu já tenha passado por elas. Me desculpe, de coração.

    Queria te perguntar uma coisa: qual curso de francês é bom e mais em conta pra se fazer em dois meses? Nesses grupos gratuitos, qualquer um pode participar?

    Ainda estou em dúvida entre maio e julho do ano que vem. Queria ir em uma época que já tivesse algumas atrações de verão, mas, ao mesmo tempo, com os parisienses ainda pela cidade.

    Merci!
    Um beijo,
    Renata

  5. Pingback: Meus pais em Paris! « Taís em Paris

  6. Guilherme

    Renata, Tais, olha eu metendo o bico nas respostas… nações não tem só guerras e mortes para recordar em seus hinos. A França tem rios de história que só a engrandece sem precisar jogar sangue nas letras. Os hinos devem ser mudados (todos) a cada período para se adaptarem. Não se trata de mudar a história, mas sacar dela outras elegâncias que enaltecem o país. No século XVIII, o conceito de nação “pedia” demonstrações de orgulho em combate, mas será que no século XXI não seria interessante para uma criança de 12 anos ler o hino de seu país e saber que ele, um dia, além de conquistar metade do mundo, pariu tambem Victor Hugo, Géricault, Delacroix, Millet, Courbet, Manet, Toulouse-Lautrec, Gauguin, Cézanne, Rousseau, etc. etc. etc… Saber quantos morreram por Napoleão, ou pela França, não faz desta uma grande nação, mas saber quantos leram, aprenderam e se apaixonaram pelas obras de Hugo deve mostrar as novas gerações o quão importante é o seu país. Mas concordo com a Tais, é mexer em vespeiro. Como adoro vespas…

    • Oi Gui,
      Então vamos mexer mais no vespeiro! Também amo alguns desses que vc citou, mas não acho que é o caso de lembra-los num hino nacional. Usando as palavras de outro dos grandes, o Alexandre Dumas: “Ensinar a historia ao povo é dar a ele seu titulo de nobreza…a nobreza do povo data do 14 de julho”. Acho natural que o hino faça referência a esse evento – a queda da monarquia – que dah as bases para a democracia e a republica, que dura até hoje. Assim como os ideias de liberdade, igualdade e fraternidade, que ainda devem nortear a politica francesa. A França chegou até aqui e as pessoas tem noção do valor de sua cidadania (o titulo de nobreza do Dumas) por causa do 14 de julho. Estou ciente da contribuição de alguns pensadores que vc citou para a democratização do pais. Os escritos de Rousseau foram comemorados pelos revolucionarios, por exemplo. Eu mesma, para ilustrar o meu argumento, acabei usando a frase de um grande escritor francês. Mas o ponto é que a Marselhesa tem um valor historico inestimavel, foi a canção que os revolucionarios adotaram, ela expressa o sentimento dessas pessoas que participaram de um evento crucial na formação do pais como ele é hoje. A revolução e seu hino só poderiam perder espaço no imaginário francês se o sistema de governo e os valores nacionais mudassem radicalmente. Ora, se os franceses ainda se orgulham, compreensivelmente, de sua revolução, é preciso muito cuidado para mexer em seu legado (o hino, por exemplo).
      Não quis colocar a revolução à frente dos escritores e artistas, pois não se trata aqui de decidir o que é mais importante. Assim como acho que o hino nacional prescinde dos grandes artistas do pais, também acho que a obra dos artistas é universal e ultrapassa as fronteiras espaciais e temporais dos Estados.
      Beijos

  7. Guilherme

    Ok, mas lembro duas coisas: (1) depois de 14 de julho, a França teve perto de 10 anos de republica e depois engoliu Bonaparte, que ficou 15 anos como imperador, tendo depois flertado novamente com a Monarquia (constitucional). (2) Há coisas lindas para lembrar no 14 de julho alem da sua barbarie (os discursos de Robespierre, por exemplo). Coisas melhores que “Estremeçam, tiranos! E vocês pérfidos, Injúria de todos os partidos, Tremei! Seus projetos parricidas Vão enfim receber seu preço!”. Sei que você não quis colocar a revolução à frente dos escritores, quem coloca sou eu, talvez abusadamente, é verdade, mas penso assim. Não gosto de militares, talvez não goste nem de hinos (por lembrar destes), mas entendo que quando a Marselhesa toca a França se arrepie. Mas porque será que isso acontece? Pela musica deslumbrante, pelas lembranças de sua história, ou pelo letra encharcada de ódio e sangue?
    Beijocas.

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